
PARTE 2
(em continuação ao José Serra – o pai da comunicação)
Depois de criar o agílimo call center (08007770333), pela Call Tecnologia e Serviços LTDA, ao custo de quase 4 milhões de reais, a Fundação para o Desenvolvimento da Educação (FDE) concluiu que faltavam, além de mais recursos humanos, equipamentos e software(s) para o trem andar como convém a uma repartição pública tão augusta. Não se esqueça do título do edital ganho pela Call: contratação de serviços terceirizados de teleatendimento. (Bi)Terceirizados, porque na FDE já existia o mesmo serviço. Pelo jeito não estavam dando conta – ou estavam demais.
Você já deve ter visto o tal edital 52/0020/09/05, citado anteriormente. Mas se perdeu a chance, recorra a ele agora e leia que a FDE fez determinadas exigências muito específicas às concorrentes, assim como assumiu um compromisso de honra:
- que fosse habilitada como um Parceiro GOLD Microsoft, com a Competência Advanced Infraestructure (sic) Solutions;
- que a ganhadora tivesse em seu quadro permanente, no mínimo, 1 (um) profissional detentor de certificação CRM Dynamic MB2-632;
- que A CONTRATADA deveria contemplar 300 horas anuais, com técnicos certificados CRM Dynamic MB2-632, para o desenvolvimento e customização da ferramenta sempre que a CONTRATANTE solicitar deste serviço;
- que ela deveria prover a integração da aplicação CRM Dynamics Microsoft com o PABX Alcatel (Sistema Alcatel – Lucent – OmmiPCX Enterprise – Edital: item 6.4.1)
- que deveria utilizar o CRM Dynamics Microsoft e o banco de dados SQL Server 2008 para a implementação do Software para a Central de Atendimento, contemplando características básicas conforme Item 6 do Anexo II – Especificações Técnicas. A licença de software para o produto CRM Dynamics Microsoft será fornecida pela FDE. Este é o compromisso da FDE, a promessa que a levará a encher sua cestinha com outras compras e todas as conseqüências do ato.*OBS – ver as obrigações da Contratante (FDE) no item 6.20 – são ótimas.
O que há de mais interessante nos resultados? Em todas elas aparece o link para o Edital da FDE/Call. Parece coisa de encomenda, de tão perfeitamente casada. Guarde esta informação valiosa, mais adiante voltaremos a ela. O que se quer de alguém com tal certificação é que saiba domar o bicho, que resolva os pepinos vários, contorne a situação, ensine à plebe a usá-lo e deixe todos felizes. A Call foi a resposta. Detalhe: quem certifica as empresas é a própria Microsoft e, portanto, ela é quem na prática indica qual será a empresa com "competência para implantar e fazer a manutenção de seu software".
Quanto ao CRM Dynamics Microsoft, o Estado já o tinha, de fato; portanto não era uma promessa vã. Para realizar a façanha do call center, idealizado desde meados de 2008, a FDE resolveu comprar software aos borbotões e muito específicos, da eterna Microsoft. Lançou, então, em 19 de dezembro de 2008, o Pregão (Presencial) de Registro de Preços 56/0149/08/05 para contratação do direito de uso definitivo, não exclusivo, de licenças de software nas modalidades select academic e school agreement. No dia 16 de janeiro de 2009 saiu em DO a homologação da ganhadora: a Brasoftware Informática LTDA (CNPJ: 57.142.978/0001-05) – outra empresa fornecedora recorrente nas áreas governamentais, uma baita campeã premiada da Microsoft.
Agora além da Band, Alston, Editora Abril, Folha de SP, Rede Globo, COMGÁS, Prefeitura de SP, PRODESP, Metrô, Secretarias de Segurança, Meio Ambiente e Fazenda, Nossa Caixa, CPTM, UNESP, UNICAMP, DERSA, Tribunal de Contas do Estado, Departamento de Estradas e Rodagens, CEET Paula Souza, Oncocentro, CETESP, ARSESP, CESP, Fundação CASA, PROCOM, Procuradoria Geral do Estado e Diebold-Procomp entre outras, ela tem novamente a FDE como cliente. Portanto, a Fundação cumpriu a promessa com a empresa Call Tecnologia de fornecer o software para a sua central de chamadas.
Os CRM (Dyn Crm Pro Svr All Lng Lic/Sa Pack Mvl e Dyn Crm Pro Svr All Lng Lic/Sa Pack Mvl 5 Clt) vieram em meio a uma paulada de outros programas, conforme o Edital, assinado por João Thiago de Oliveira Poço (Diretor de Tecnologia da Informação), e Magda Moura Motta Nieto (Gerente de Sistemas de Informação). O mesmo pode ser visto no Cadastro Pregão, do Governo de SP, porém com informações diversas. Basta entrar e escolher a opção Pesquisa Vencedor; daí colocar o nome Brasoftware e aguardar os resultados; ao surgirem encontre o número 56/0149/08/05 – outra opção esta tabela aqui. No Cadastro Pregão há 53 ocorrências para o mesmo processo, que são justamente as compras feitas no pacote. Os CRM estão no meio. Não há outra compra semelhante registrada em DO, portanto, só podem ter sido adquiridos neste pregão. Se recorrermos ao DO de 7/fevereiro/2009, vemos que se confirmam os dados do Edital; os nomes de alguns foram reti-ratificados em DO no dia 11/junho, mas é tudo a mesma coisa.
A obnubilar o astro rei por meio d’uma poruca
Não vemos em DO o valor da negociação, nem aproximado, já que a empresa "ganha" por software instalado. Por outro lado, no site Pregão temos que o Valor Total (geral) Negociado é de R$ 2.796.848,34 – mas isto não é verídico. No site Pregão as quantidades são diversas das que aparecem em DO e no Edital, pois no Pregão são consideradas as quantidades mínimas, no DO as quantidades máximas – o correto. Portanto o valor do negócio no site Pregão não pode ser aquele que consta. Antes fosse.
Daí você me pergunta: Como assim, NaMaria? Um site do governo não mente jamais; tu tá doida, é?
Não mente mas confunde e omite. Então, para adiantar teu expediente, por favor dê uma olhada nesta singela planilha completa feita por mim – com quantidades corretas, com a reti-ratificação, e sobretudo, com os valores. Viu? Gostou? Nada mal para uma empresa, tipo a impecável Brasoftware, fazer um negócio capaz de chegar à bagatela de R$97.801.694,39.
Somente se uma bomba atômica caísse neste instante sobre a Brasoftware e a empresa fornecesse as quantidades mínimas, ela levaria o dinheiro que o site Pregão mostra. Como isso dificilmente acontecerá, aquele pequeno valor de quase cem milhões pode ser o limite a ser embolsado – caso não haja outra ratificação, prorrogação etc.. Não é sublime? Os irmãos e donos da contratada, Jorge Sukarie Neto e Eduardo Fouad Sukarie, estão pra lá de otimistas com seus negócios. Quem não estaria?
Passado o surpreendente valor, repare agora no item 45 da tabela completa: Forfrnt Clnt Sec Mgt Cnsl All Lng Monthly Subscription Mvl W/Sql. Percebeu o preço da coisa? Só nisso a Brasoftware pode levar R$68.754.600,00. Não é um absurdo descomunal o valor de R$4.583,64 para uma licença? O troço é mais caro que bons computadores completos. E ainda a FDE quer comprar 15 mil deles. Perguntas:
- Para colocar onde?
- Seriam para os computadores que funcionam como servidores no Acessa Escola? Projeto este que usa as toneladas de computadores "alugados" do Consórcio Educat (CTIS/PROINFO-DIEBOLD/POSITIVO) – já com sofware (Windows Vista Business All Lng Upg/SA Pack MVL Partners in Learning e Office Enterprise All Lng Lic/SA Pack MVL Partners in Learning; de 19.500 a 31.000 licenças mensais) –, que por sua vez fazem parte do projeto Computador na Escola?
- O mesmo Acessa Escola fenomenal que deve usar o Blue Control da MStech – que não funciona, mas foi especialmente feito para a FDE?
- E os outros itens da compra? Servem a quais máquinas e de onde?
- Por que há licenças de 1 e 3 anos? No próximo ano a FDE fará novamente as mesmas compras - ou diferentes? Ou deixará as máquinas "descobertas" como já aconteceu no passado, caracterizando pirataria?
- Quem saberia responder essas questões, que não o Secretário Paulo Renato Costa Souza e sua gentil equipe?
Maravilha. Agora já sabemos como a empresa "de qualidade", Call Tecnologia e Serviços, avançou do Centro-oeste do país para agir na Prefeitura de SP (com José Serra) e depois direto para os negócios do Estado (com José Serra) – e se expandiu a ponto de ter dois escritórios em SP e um crescimento de 300% só nos últimos três anos.
Também sabemos que são necessários quase cem milhões de reais em softwares da Brasoftware (Microsoft) para tentar fazer funcionar a Call e, conseqüentemente, o Consórcio Educat, além das tarefas da MStech junto aos alunos estagiários do Acessa Escola.
Mas ainda faltam personagens: o PABX IP, outros equipamentos/serviços, o atendimento ao cliente, os treinamentos dados na FDE...
Aliás a imagem acima é, na verdade, mais uma pergunta a quem interessar possa: se no Edital da Call Tecnologia e Serviços está previsto que a própria empresa daria os treinamentos do CRM ao pessoal da FDE e outros (ver por exemplo: item 14.1.3; Categoria Profissional: Coordenador - Perfil Profissional Básico; (perfil) Gerente de Central de Atendimento, e item 17.1.3), por que aparece na apostila de treinamento CRM o logotipo da MStech e não o da Call? A quem, afinal, cabe esta farfúncia?
Boa pergunta. Há outras.